sexta-feira, 31 de julho de 2009

O SINDICALISMO BRASILEIRO VIROU NEGÓCIO RENDOSO

Já se foi o tempo em que o movimento sindical brasileiro prometia ser um dos grandes instrumentos de luta da classe trabalhadora contra a exploração dos patrões e a opressão do sistema capitalista, bem como em defesa de mudanças estruturais na sociedade que colocassem efetivamente a população como o centro das políticas econômicas, sociais e culturais desenvolvidas democrática e coletivamente.

Hoje, sobretudo após a ascensão do mais famoso sindicalista ao poder central, paradoxalmente o projeto sindical libertário foi simplesmente abandonado e, no seu lugar, adotado um outro totalmente oposto, direcionado para transformar, rapidamente, o sindicalismo em ótimo negócio sobretudo para um casta de burocratas instalados no poder sobre as entidades representativas.

A recente Lei Federal n° 11.648/08 que legalizou as Centrais Sindicais e que teve como objetivo principal colocá-las no rol das entidades credoras do imposto sindical getulista, foi a demonstração mais clara e explícita dessa mudança radical dos rumos políticos do movimento sindical brasileiro.

Articuladas com o governo Lula, as Centrais Sindicais (lideradas pela CUT) atuaram intensamente para ver aprovada a referida lei que, na prática, em primeiro lugar, visa enfraquecer ainda mais a mobilização e organização das bases tornando os sindicatos submissos e dependentes politicamente das Centrais. Essas adquiriram formalmente a prerrogativa de serem “representantes” dos interesses gerais dos trabalhadores junto às instâncias superiores governamentais e patronais.

Em segundo lugar, a referida lei serve também para atrelar o movimento sindical ao Estado uma vez que essas entidades, “representantes maiores” dos trabalhadores, deverão estar enquadradas rigorosamente dentro de um modelo de organização, com regras determinadas, coordenadas e fiscalizadas pelo Ministério do Trabalho, sem as quais não serão reconhecidas para efeitos de negociação e recebimento pecuniário.

Obviamente, para garantir seus benefícios e o poder legalmente constituído, todas as Centrais Sindicais, inclusive as que se colocam como “esquerdistas”, trataram de imediatamente enquadrar-se nas regras do jogo. Aceitaram de bom grado a lógica que as elites vinham tentando implementar há décadas: a legitimidade do movimento sindical como algo não conquistado pela causa e pela luta política justa em prol da emancipação da classe trabalhadora, e sim um direito concedido pelo Estado burguês a partir do cumprimento das suas condições políticas e exigências burocráticas estipuladas.

Deste modo, de um perfil originariamente contestador e centrado na perspectiva da luta de classes, o movimento sindical da atualidade foi se reduzindo a uma mera “empresa prestadora de serviços corporativos” às categorias representadas, afastando-se da grande massa dos trabalhadores (a maioria hoje desempregada e subempregada) virando daí negócio rendoso cada vez maior para os seus “gerentes”, em diversos aspectos que se coadunam e se complementam.

Em primeiro lugar, no aspecto político: ser dirigente sindical tornou-se um verdadeiro trampolim para a sua inserção em vários outros meios do poder político (partidário, governamental, social, empresarial etc).

Em segundo lugar, no aspecto profissional: o mandato sindical continuado (que faz-se hoje uma situação corriqueira em todos os sindicatos) tornou-se, na prática, uma outra profissão (o paraíso: onde o empregado é o próprio patrão!) para muitos dirigentes, sobretudo para os licenciados.

Em terceiro lugar, no aspecto pessoal: o domínio sobre a máquina da entidade permite aos dirigentes o usufruto pessoal dos seus inúmeros recursos disponíveis (financeiros, materiais, humanos, etc), utilizando-se para tanto sempre o pretexto de estar atuando “em nome dos interesses coletivos da categoria”.

A conclusão é que se vive hoje, no meio sindical, uma situação generalizada de corrupção moral e, em decorrência disso, com muitos focos de corrupção financeira, desmoralizando completamente esse instrumento que deveria ser da classe trabalhadora.

Não obstante, ainda que com todas as cooptações e oportunismos da grande maioria dos dirigentes sindicais atuais, enquanto houve a dominação e opressão do capitalismo, a luta de classes continuará ativa, de um jeito ou de outro, produzindo inclusive alternativas de resistência. A criação de novos instrumentais de organização e luta libertária dos trabalhadores é um fenômeno constante na história das sociedades que reaparece com força sobretudo nos momentos de crise generalizada como a que se está vivendo atualmente. É inclusive, uma realidade que foge ao controle e ao interesse dos que se beneficiam com o estado de coisas.

No momento, aos militantes e homens de bem que não sucumbiram às seduções do poder dominante, cabe persistir na longa, árdua, mas gratificante caminhada em prol de uma futura sociedade socialista sem oprimidos e opressores, deixando que a história se encarregue de julgar e condenar os que sucumbiram e se venderam.

Rio de Janeiro, 06 de dezembro de 2008.

RINALDO MARTINS DE OLIVEIRA
Militante Sindical há 18 anos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário