sexta-feira, 31 de julho de 2009

O SINDICALISMO BRASILEIRO VIROU NEGÓCIO RENDOSO

Já se foi o tempo em que o movimento sindical brasileiro prometia ser um dos grandes instrumentos de luta da classe trabalhadora contra a exploração dos patrões e a opressão do sistema capitalista, bem como em defesa de mudanças estruturais na sociedade que colocassem efetivamente a população como o centro das políticas econômicas, sociais e culturais desenvolvidas democrática e coletivamente.

Hoje, sobretudo após a ascensão do mais famoso sindicalista ao poder central, paradoxalmente o projeto sindical libertário foi simplesmente abandonado e, no seu lugar, adotado um outro totalmente oposto, direcionado para transformar, rapidamente, o sindicalismo em ótimo negócio sobretudo para um casta de burocratas instalados no poder sobre as entidades representativas.

A recente Lei Federal n° 11.648/08 que legalizou as Centrais Sindicais e que teve como objetivo principal colocá-las no rol das entidades credoras do imposto sindical getulista, foi a demonstração mais clara e explícita dessa mudança radical dos rumos políticos do movimento sindical brasileiro.

Articuladas com o governo Lula, as Centrais Sindicais (lideradas pela CUT) atuaram intensamente para ver aprovada a referida lei que, na prática, em primeiro lugar, visa enfraquecer ainda mais a mobilização e organização das bases tornando os sindicatos submissos e dependentes politicamente das Centrais. Essas adquiriram formalmente a prerrogativa de serem “representantes” dos interesses gerais dos trabalhadores junto às instâncias superiores governamentais e patronais.

Em segundo lugar, a referida lei serve também para atrelar o movimento sindical ao Estado uma vez que essas entidades, “representantes maiores” dos trabalhadores, deverão estar enquadradas rigorosamente dentro de um modelo de organização, com regras determinadas, coordenadas e fiscalizadas pelo Ministério do Trabalho, sem as quais não serão reconhecidas para efeitos de negociação e recebimento pecuniário.

Obviamente, para garantir seus benefícios e o poder legalmente constituído, todas as Centrais Sindicais, inclusive as que se colocam como “esquerdistas”, trataram de imediatamente enquadrar-se nas regras do jogo. Aceitaram de bom grado a lógica que as elites vinham tentando implementar há décadas: a legitimidade do movimento sindical como algo não conquistado pela causa e pela luta política justa em prol da emancipação da classe trabalhadora, e sim um direito concedido pelo Estado burguês a partir do cumprimento das suas condições políticas e exigências burocráticas estipuladas.

Deste modo, de um perfil originariamente contestador e centrado na perspectiva da luta de classes, o movimento sindical da atualidade foi se reduzindo a uma mera “empresa prestadora de serviços corporativos” às categorias representadas, afastando-se da grande massa dos trabalhadores (a maioria hoje desempregada e subempregada) virando daí negócio rendoso cada vez maior para os seus “gerentes”, em diversos aspectos que se coadunam e se complementam.

Em primeiro lugar, no aspecto político: ser dirigente sindical tornou-se um verdadeiro trampolim para a sua inserção em vários outros meios do poder político (partidário, governamental, social, empresarial etc).

Em segundo lugar, no aspecto profissional: o mandato sindical continuado (que faz-se hoje uma situação corriqueira em todos os sindicatos) tornou-se, na prática, uma outra profissão (o paraíso: onde o empregado é o próprio patrão!) para muitos dirigentes, sobretudo para os licenciados.

Em terceiro lugar, no aspecto pessoal: o domínio sobre a máquina da entidade permite aos dirigentes o usufruto pessoal dos seus inúmeros recursos disponíveis (financeiros, materiais, humanos, etc), utilizando-se para tanto sempre o pretexto de estar atuando “em nome dos interesses coletivos da categoria”.

A conclusão é que se vive hoje, no meio sindical, uma situação generalizada de corrupção moral e, em decorrência disso, com muitos focos de corrupção financeira, desmoralizando completamente esse instrumento que deveria ser da classe trabalhadora.

Não obstante, ainda que com todas as cooptações e oportunismos da grande maioria dos dirigentes sindicais atuais, enquanto houve a dominação e opressão do capitalismo, a luta de classes continuará ativa, de um jeito ou de outro, produzindo inclusive alternativas de resistência. A criação de novos instrumentais de organização e luta libertária dos trabalhadores é um fenômeno constante na história das sociedades que reaparece com força sobretudo nos momentos de crise generalizada como a que se está vivendo atualmente. É inclusive, uma realidade que foge ao controle e ao interesse dos que se beneficiam com o estado de coisas.

No momento, aos militantes e homens de bem que não sucumbiram às seduções do poder dominante, cabe persistir na longa, árdua, mas gratificante caminhada em prol de uma futura sociedade socialista sem oprimidos e opressores, deixando que a história se encarregue de julgar e condenar os que sucumbiram e se venderam.

Rio de Janeiro, 06 de dezembro de 2008.

RINALDO MARTINS DE OLIVEIRA
Militante Sindical há 18 anos.

domingo, 5 de julho de 2009

MICHAEL JACKSON: O PACTO COM O DIABO E O BEZERRO DE OURO

Não há dúvidas que boa parte da população mundial, nestes últimos dias, está amargando um forte sentimento de vazio existencial com a morte de Michael Jackson (26/06/09), aos 50 anos de idade. Não podia ser diferente: foi a morte prematura e inesperada do maior “mega star” que a indústria cultural capitalista já produziu em todos os tempos.

O ídolo simplesmente instalou-se no imaginário coletivo como uma espécie de “semi-deus”: alguém que para ter alcançado tamanha fama, sucesso e riqueza – como sempre foi massivamente ostentado pela mídia e pelo próprio artista – só poderia mesmo ter uma ligação direta com o divino.

Contudo, vale observar o fato curioso das circunstâncias da morte do cantor. Estas revelaram que o “pacto” de Michael Jackson, ao contrário do que seus fãs possam acreditar e a mass mídia mundial tente transmitir agora em sua homenagem póstuma, não foi bem com Deus mas sim com o diabo, abarcando inclusive impressionantes requintes de semelhança com os filmes holliwoodianos que exploraram esse tipo de roteiro. Afinal, de repente, após anos de ostracismo, ter explodido com sucesso estrondoso internacional através do vídeo clipe “Triller” (cujos personagens, aliás, são monstros e zumbis) e décadas após ter morrido de overdose de medicamentos, em decorrência de vícios provocados pela sua vida de “mega-star”, não sugere que em um dado momento o diabo teria-lhe batido a porta oferecendo a glória total em troca da sua vida aos 50 anos cravados?

Obviamente, esta é apenas uma linguagem figurada cinematográfica, com certa ironia. Contudo, o que importa é o fato sério e concreto que a mídia deliberadamente trata de omitir: na verdade, Michael Jackson foi apenas um homem, mortal como qualquer outro, que não resistiu às pressões do assédio de uma massa que costuma criar seus ídolos para, a seguir, consumi-los até a exaustão.

A morte súbita do cantor remete-nos também a uma outra interessante reflexão: como o antigo processo de idolatrização, denunciado pelos profetas bíblicos, continua presente nos dias contemporâneos.

Michael Jackson representou, talvez como nenhum outro artista, o “bezerro de ouro” (deus forjado pelo provo hebraico na ausência momentânea de Moisés por ocasião da sua subida ao monte Sinai onde recebeu os 10 mandamentos) que conquistou corações de milhões (quem sabe bilhões!) de pessoas. Sabe-se que a característica principal de todo ídolo retratado pela Bíblia é de representar um falso deus, ou seja, um objeto de culto criado pelos próprios homens, por isso, não tendo valor próprio. E, convenhamos, tal analogia é também perfeitamente cabível em relação ao que representou o falecido artista. Afinal, Michael Jackson foi ou não foi exatamente um bezerrinho, muito bem tratado e ornamentado com véu de ouro, mas absolutamente manipulado pelos seus criadores?

Por outro lado, não há como não dizer que a sua mega-projeção mundial foi muito mais fruto da pesada produção midiática que se construiu em torno de sua figura do que propriamente pelo que ele tinha concretamente a oferecer enquanto artista. Pois observando-se de perto o seu trabalho, objetivamente pouca coisa pode ser considerada realmente de qualidade “artística”. O que não se confunde com qualidade “performática” que, neste aspecto, foi insuperável! Esta, porém, demanda mais técnica, arranjos sonoros, pirotecnia (obviamente forjados com muito investimento financeiro) do que criatividade e beleza estética (como, por exemplo, tiveram os Beatles em suas canções, cujo direito autoral, aliás, foi comprado por Michael Jackson).

Pra terminar, digo que sempre entendi que o capitalismo representa muito mais do que apenas um sistema de poder controlado por uma elite burguesa visando o lucro econômico. Antes disso, percebo que é mais um dos tantos meios sutis que já foram criados, no decurso da história humana, através do qual as “forças do mal” (dê-se a isso o nome que se quiser) executam seus projetos, seduzindo e extirpando suas vítimas. O dinheiro sempre teve essa força poderosíssima de arrebatamento. Hoje, que todo o sistema gira especialmente em torno desse “deus”, essa força malígna intensificou-se ainda mais. Muitas vezes só mesmo a morte dos ídolos (nos seus diversos significados) faz-se capaz de sacudir as pessoas para que enxerguem, pelo menos um pouco, de que o seu deus cultuado não passa de uma ilusão.

Rio, 27/06/09.
RINALDO MARTINS DE OLIVEIRA

sexta-feira, 19 de junho de 2009

A LEMBRANÇA MALDITA QUE LULA DEIXARÁ ÀS FUTURAS GERAÇÕES

A LEMBRANÇA MALDITA QUE LULA DEIXARÁ ÀS FUTURAS GERAÇÕES

Antes de qualquer outra palavra, preciso explicar que, apesar do título acima, este texto não pretende transmitir pessimismo, pelo contrário. A partir de uma avaliação crítica do legado que os oito anos (2003-2010) de governo Lula irão deixar para o futuro do nosso país, minha intenção é justamente refletir essa fase histórica como mais uma experiência política acumulada pelo povo brasileiro, cuja saga - parece-me - tem sido sofrer a permanente e inevitável desconstrução de falsos sonhos incutidos pelos que sempre estiveram no poder para, nisso, realizar o seu lento aprendizado e maturação política na direção da construção de um verdadeiro e profundo projeto libertador para o país bem como para a América Latina e Central.

Minha posição é que, apesar dos desertores e traidores que sempre deixaram marcas vergonhosas e estragos na longa história da humanidade, o sonho e a luta por um mundo melhor continua sendo os mesmos, erguidos e se consolidando sempre através dos inúmeros protagonistas anônimos que “fermentam a massa”, e que são os melhores homens e mulheres produzidos pela humanidade. Um desses foi Dom Helder Câmara que costumava intitular os verdadeiros heróis da humanidade como “minorias abraâmicas” em referência à grande esperança que Abraão do Antigo Testamento nutria - contra todas as evidências e dificuldades (“contra toda esperança”, como dizia São Paulo) - que por suas mãos o “povo escolhido” estaria fadado a nascer.
O governo Lula certamente conseguirá diferenciar-se dos seus antecessores, como falam seus entusiastas. Mas não pelo que alegam, ou seja, pelos seus tão propalados “méritos políticos“ de ter supostamente “invertido prioridades”. Na verdade, essa política forjada pelo governo em torno do fortíssimo apelo ao assistencialismo e ao personalismo somente se construiu para facilitar-lhe o cumprimento de todos os seus compromissos maiores firmados com os poderosos que o colocaram no poder na condição expressa de servi-los. Portanto, mérito ou novidade nenhuma nessa estratégia mesquinha adotada que só fez requentar e reproduzir a velha prática padrão das tradicionais direitas conservadoras do país responsáveis por criar a situação caótica que nos encontramos.

A marca real (não de realeza) que esse governo deixará em comparação aos outros anteriores vem de outro fator: das condições favoráveis que a presente conjuntura lhe proporcionou para que pudesse assumir “novos” papéis dentro da nova ordem econômica estabelecida para os países da América Latina e Central.

Lula, para o seu deleite eleitoral, pegou um país realmente “preparado para avançar”, como costuma dizer em seus discursos. Para avançar, sim, mas na direção da fase pós-neoliberal cuja hegemonia do capital financeiro se vem fazendo absoluta. A fase que passou, excelentemente executada até as últimas consequências pelos seus antecessores, resultou na completa destruição do pouco que ainda restava do país: patrimônios históricos nacionais, doados; direitos trabalhistas e previdenciários duramente conquistados, retirados; o parque industrial de infra-estrutura, sucateado; serviços públicos privatizados; etc. e no seu lugar impôs-se o endividamento interno monstruoso (R$ 2 tri); o desemprego estrutural (30% da população econômica ativa); o engessamento e o atrelamento do movimento político-social ao Estado (vide a CUT); crescimento brutal do desmatamento e poluição ambiental em favor do agro-negócio e do latifúndio; etc, tudo isso para abrir frente à nova etapa do domínio do capital.

A fase atual, ao contrário da anterior, já não se pode definir mais como um “projeto” político-ideológico mas sim como a instauração definitiva de um novo modelo de organização total da sociedade que deverá imperar por um bom tempo, em que pesem todas as crises que por ele já estão sendo provocadas. Lula, portanto, vive o conforto de poder fingir que está gerindo o Estado com toda “competência” e “resistindo à política neoliberal” quando, na verdade, já não mais existe Estado algum para cuidar. Atua, com grande performance teatral, semelhante a uma criança que finge ser pai de seus bonecos. Em uma palavra, na prática, Lula e seus aliados não têm feito outra coisa a não “ser seguir a cartilha”. E nisso até podemos admitir que o fazem muito bem, ultrapassando inclusive as expectativas.

Enfim, ao ter inaugurado esses “novos tristes tempos”, Lula ganhou a rara chance de deixar a sua impressão digital na história do país. E essa marca, de fato, será lembrada pelas futuras gerações, visto que, como diz o ditado popular, “a primeira impressão é que fica”. Mas, será um lembrança maldita de alguém que teve tudo nas mãos para ajudar a sociedade a erguer-se em sua auto-estima e a lutar pelo resgate de sua soberania e identidade, mas que preferiu traí-la covardemente em troco de poder e benesses para si e seu grupinho.

Rinaldo Martins de Oliveira
18/06/09

SOBRE A FÉ ANTROPOLÓGICA

“Graças à síntese entre a invisibilidade dos resultados de nossa própria história e a relativa visibilidade dos resultados da grande história humana, a atividade histórica continua sendo uma promessa pela qual valea pena apostar, numa esperança feita de paciente responsabilidade”.

Juan Luiz Segundo.

Este é um parágrafo do excelente livro “A história perdida e recuperada deJesus Cristo”. A passagem é em análise do cap. 8. de Paulo aos Romanos,onde está o seu pensamento mais profundo. Para JL Segundo, Paulo ali faz um esforço para interpretar a Ressurreição de Jesus com uma clave antropológica e não teológica/religiosa, portanto cabível a todos os homens. Inclusive, essa clave antropológica tanto veio influenciar os próprios evangelhos que lhes possibilitou formular uma outra clave - a clave política - para a interpretação da vida de Jesus (o seu embate com os fariseus represente claramente esta clave interpretativa).

A Ressurreição de Cristo representa, para Paulo, o mesmo que a Ressurreição Universal de todos os homens. Paulo, inclusive, dá mais importância à essa última ressurreição do que a do próprio Jesus. Em Rm8,24-25 ele fala: “Esperança que se vê não é esperança, porque, para que esperaria quem já vê? Mas se esperamos o que não vemos, anelamos com paciência”. Ele quer dizer que a Ressurreição de Jesus não é prova, em si mesma, da vitória do bem contra o mal, mas sim sinal de que estamos no caminho certo quando esperamos ativamente que essa vitória um dia venha a acontecer definitivamente. Ou seja, a esperança na ressurreição não é exclusiva só de quem acredita em Deus, mas mérito de todos os homens que acreditam na capacidade do homem e da humanidade de se auto-superar em direção à sua perfeição (o comunismo de Marx, que foi ateu, não seria a expressão dessa fé antropológica?).

Nesse aspecto antropológico proposto por Paulo, a doutrina cristã se iguala à doutrina budista/hinduísta uma vez que todas atribuem aos homens a possibilidade de atingir, em vida e aqui na terra, a perfeição. O Espírito (que se traduz de forma variada) serve para dar forças aos homens para essa construção do que Jesus denominou Reino de Deus.

Rinaldo Martins de Olivera

19/06/09.

domingo, 7 de junho de 2009

O ATUAL MODELO DO HIPER-INDIVIDUALISMO E A CULTURA DO HEDONISMO ALIMENTANDO O FALSO SONHO DE FELICIDADE

A atual fase histórica em que as nossas sociedades do mundo inteiro atravessam exige dos homens e mulheres de bem, preocupados com a realidade de injustiça, pobreza e miséria das massas e dispostos a colaborar na luta pela sua supressão, uma análise cuidadosa e profunda dos novos instrumentais de controle e alienação utilizados pelos dominantes. Isto para que nossos atos políticos não acabem em práticas não só ineficazes nos seus propósitos almejados como também colaboradoras dessa situação geral caótica e opressiva.

Trata-se de entender que a partir da década de 70 foi introduzido nas sociedades dos países centrais, alcançando, a partir da década de 80, também os países “periféricos”, um modelo de comportamento de massas calcado na lógica do chamado hiper-individualismo.

Todas as estruturas de poder e controle social, nos seus mínimos detalhes, estão agora plenamente voltadas para a super-valorização, ou mais exatamente, para a exaustiva exploração do mundo subjetivo dos indivíduos em detrimento da vida compartilhada em sociedade.

Aproveitando-se justamente do atual momento, qual alguns teóricos denominam de pós-modernidade (seja em ruptura ou em aprofundamento da modernidade iniciada no século XIX), quando vê-se aflorar novamente um grande pulsar do espírito humano à procura da experimentação de novas dimensões existenciais, muitas até então desconhecidas e/ou reprimidas pelos tradicionais modelos culturais anteriores, os grandes grupos dominantes têm conseguido, com grande desenvoltura, vender às massas falsos sonhos de libertação de sempre, em torno da imposição de pseudo-novos valores.

A novidade mesmo não está nos atuais valores em si disseminados mas na capacidade que adquiriram de articular um novo estilo de vida alcançando TODAS as estratificações sociais, ou seja, não só os segmentos das classes mais abastadas (alta e média) como também agora os da classe pobre e popular. Cada uma dessas classes - e dentro de cada classe, os seus sub-grupos - ainda que de forma diferenciada, tendem a adotar um único padrão de comportamento centrado no valor do hedonismo que se estabelece como uma própria cultura social a qual toda a vida contemporânea, como “exigência dos novos tempos”, deve estar submetida e sintonizada para galgar o seu sentido existencial e a, conseqüente, felicidade.

Colocada no patamar de fim máximo, a conquista e usufruto do prazer (o consumismo é um dos meios, certamente o mais recorrido) torna-se a meta principal de cada indivíduo para o qual vale todo o esforço. Deste modo, a procura da construção da sua dignidade enquanto ser humano (que inclui o prazer, mas não se esgota nele) fica simplesmente relegada ao esquecimento, como se percebe explicitamente hoje em dia.

É, enfim, através desta redução, inversão e deturpação dos verdadeiros valores existenciais que então se pode transformar os indivíduos em seres passivos, dóceis às imposições do capital e indiferentes em relação a tudo que se refira à sua própria essência humana, que está fundamentalmente no exercício da Liberdade profunda para o qual todos somos vocacionados a viver.

A máxima dos ideólogos clássicos do poder: “dividir para dominar”, foi agora, com o modelo comportamental do hiper-individualismo e com a cultura social do hedonismo, levada às suas últimas conseqüências. Trata-se da atomização total dos indivíduos em seus mundos internos convertendo o mundo social e as relações inter-pessoais em mero meio a serviço de seus próprios interesses privados.

Dentro desse quadro cabe-nos entender que lutar hoje pelo respeito à dignidade humana nas nossas sociedades representa, mais do que nunca, combater os (anti)valores nelas predominantes que têm remetido a esmagadora maioria das pessoas a procurarem a felicidade onde não encontrarão.

Rio de Janeiro, 06 de junho de 2009.

RINALDO MARTINS DE OLIVEIRA

sexta-feira, 5 de junho de 2009

TRAGÉDIA NO VOO 447: SÓ A DOR DO RICO SAI NOS JORNAIS

Toda tragédia é uma lástima e lembra-nos, da forma mais dura, o quão somos frágeis e efêmeros. Acontece que quando ela ocorre com pessoas das classes abastadas, como recentemente se deu no vôo 447, cujo avião com 228 passageiros em viagem do Rio para Paris caiu no oceano Atlântico, a mídia transforma o fato em algo terrível, valendo dias de cobertura total e detalhada, elevando ao limite a consternação nacional e mobilizando, conseqüentemente, as autoridades do país inteiro.

Obviamente não estarei aqui minimizando a dor das famílias das vítimas e também a necessidade do devido esclarecimento público sobre o acidente. Mas é preciso perguntar: por que tamanho alarido e tanto envolvimento emocional de massa (é só ir às ruas para se perceber isso) em torno da queda do avião? Ou será que possa existir alguém, incluindo os passageiros e seus familiares, que nunca tenha imaginado a possibilidade de falha técnica de uma máquina sobrevoando há 10 km do nível do mar e numa velocidade de cerca de 500km/h ou mesmo de falha humana dos seus pilotos?

Na verdade, os meios de comunicação de massa não estão nada realmente sensíveis, como aparentam, com a situação desesperadora dos familiares das vítimas, pelo contrário: exploram friamente episódios tristes, como esse, como mais uma oportunidade de sensacionalismo para "vender matérias" e também para manter as massas desviadas e distantes dos assuntos que realmente atingem e afligem diretamente a todos. Essa manipulação do sentimento coletivo serve ainda para transmitir e reforçar a concepção de que as classes abastadas (rica, alta e média), justamente pela sua condição econômica, valem mais do que a classe pobre, aplicando-se essa mesma lógica para os indivíduos que as compõem. É sobre esse último assunto que venho refletir.

A pergunta é: por que as diversas tragédias sofridas pelos pobres diariamente não são tratadas pela mídia com o mesmo teor de importância e gravidade? Essas, inclusive, normalmente sequer são oriundas de fatalidades e sim de fatores político-sociais absolutamente conhecidos por todos, sobretudo, pelas autoridades responsáveis que poderiam perfeitamente evitá-las caso houvesse real interesse.

Ora, essa diferenciação no tratamento da tragédia sofrida pelo pobre e a sofrida pelo rico é claramente de fundo ideológico com alta dosagem fascista: considera-se que a vida do pobre, em diversos aspectos, já é mesmo uma tragédia permanente e inevitável, de modo que uma eventual ocorrência trágica representa nada mais do que mais um infortúnio em sua vida, não carecendo, portanto, de comoção ou preocupação social. Mesmo que tenha todos os ingredientes para o sensacionalismo tão procurado pela mídia, ainda sim, curiosamente, a tragédia sofrida pelo pobre nunca é explorada. Já uma violência ou um desastre, acometido contra o rico, representa uma verdadeira calamidade, um acinte, um absurdo ocorrido contra a sua dignidade humana.

Deste modo é que se vai legalizando e legitimando a existência das estratificações sociais e as injustiças estruturais tão absurdas e desumanas contra os pobres. Essas, sim, provocam as maiores tragédias no país e no mundo. Mas, quem se importa?


Rio, 05/06/09

Rinaldo Martins de Oliveira

sexta-feira, 29 de maio de 2009

À PROCURA DE 50 MILITANTES PARA INÍCIO DE UM PROJETO REVOLUCIONÁRIO

A) INTRODUÇÃO


1) A procura de ativistas revolucionários.

Procuro 50 ativistas que queiram começar um projeto transformador (exposto no item B) visando a mobilização popular, a começar na cidade do Rio de Janeiro, com potencial de alastramento para outras cidades do Estado do RJ e do país, dentro do propósito das mudanças estruturais da ordem capitalista dominante.

2) A única exigência.

A única exigência, para a garantia do desenvolvimento profícuo do projeto, é que cada participante esteja movido pelo sentimento de total altruísmo e gratuidade à causa da libertação popular. Pois, de benefício pessoal, como poderá ser concluído, o projeto só proporcionará a satisfação da certeza de que se está contribuindo concreta e efetivamente para uma futura sociedade fraterna, sem exploradores e explorados, sem opressores e oprimidos, sem algozes e vítimas, ou seja, para uma sociedade autenticamente socialista com democracia direta radical. No mais, o projeto só poderá cobrar muita paciência histórica, esforço e sacrifício de cada um dos participantes e nada mais além disso.

3) O desvínculo do projeto com qualquer organismo político.

Trata-se de um projeto a ser desenvolvido por iniciativa pessoal de seus participantes, motivados pelos seus princípios. Portanto, não é vinculado e nem deve sê-lo a qualquer organização, instituição ou entidade civil, estando, porém, todos os ativistas desses organismos políticos também convidados a participar livremente do mesmo.
4) O caráter estratégico do projeto.

O projeto tem uma perspectiva revolucionária em sua forma e conteúdo mas não garante, por si mesmo, um resultado, pelo menos a curto e médio prazo, no que se propõe a fazer: promover a auto-transformação das massas desorganizadas em povo politicamente organizado. Isto porque, através dele, seus participantes não se disporão a “transmitir verdades” ou “conduzir o processo” mas, tão somente, instigar a população a procurar, a partir da sua própria realidade, demanda e juízo político, as saídas para os problemas concretos que sofre no seu cotidiano. Ou seja, o método adotado não tem a falsa pretensão científica de querer prever ou determinar quais passos deverão ser dados e quando cada etapa será superada na direção almejada. Pois, tratando-se de atingir e envolver politicamente pessoas concretas, considerando as suas virtudes e limitações, e não uma mera massa sem personalidade própria, qualquer determinismo torna-se absolutamente irreal.

Não obstante, apesar de sua imprecisão em relação aos enlaces e desenlaces que surgirão no decorrer da sua execução, o presente projeto se orienta no PRINCÍPIO POLÍTICO que sempre foi o único capaz de efetivamente alcançar concretamente os objetivos estratégicos e revolucionários acima: aquele que radicalmente recusa-se impor soluções, ao contrário, insiste incansavelmente que a própria população, seja em qual estágio político estiver, as procure pelo seu próprio juízo de valor e meios, mesmo que as medidas por ela decididas não sejam consideradas as mais “corretas” e “eficazes” (obviamente, pelo relativo critério de uma vanguarda intelectual).

Portanto, aqui se entende que o papel da verdadeira vanguarda não é o de impedir os eventuais “erros” ou “desvios” cometidos pelas “bases” mas principalmente o de ajudá-las, quando isto ocorrer, a refleti-los para superá-los. A avaliação é que a causa do maior atraso no processo da organização popular e mesmo do seu estancamento nunca esteve nos erros táticos cometidos pela população (até porque ela nunca teve o direito de decidir), mas justamente na arrogância de uma auto-intitulada vanguarda pseudo-iluminada de querer - sempre em vão – obrigar as bases a “acertar”, suprimindo com isso justamente o fim estratégico que teoricamente pretende-se alcançar: um modelo de organização sócio-política radicalmente democrática entre os indivíduos no país, onde todos, efetivamente, tenham garantido o poder deliberativo e executivo sobre os rumos gerais da sociedade onde vivem.

5) O prazo para alcançar algum resultado.

O prazo para o surgimento de algum resultado concreto, após o início da execução do projeto, quanto à efetiva mobilização popular (ainda que de um segmento social situado em uma determinada região da cidade, como após será melhor esclarecido) não poderá ser previamente definido, pelas razões acima já explicadas. Não obstante, a perspectiva que aqui se vislumbra é que com 10 anos de atuação incansável e continua desses 50 ativistas iniciais (podendo e devendo ser este número multiplicado no decorrer do tempo de atuação), preservando-se, obviamente, o espírito original do projeto, já poderá ser verificado um grande avanço nos seus objetivos concretos. Talvez até mesmo um resultado altamente revelador, pois a realidade para os próximos anos infelizmente parece caminhar justamente na direção contrária, ou seja, no sentido do aprofundamento ainda maior da desmobilização das organizações políticas em geral no país.

6) O projeto como referência de ação direta.

É claro que o projeto não tem a ilusão de galgar sozinho um processo de revolução popular em todo o país. Trata-se, propriamente, de promover uma determinada ação direta concreta em alguns meios populares, com uma tática definida que, pretende, contudo, fundamentalmente transformar-se em uma referência concreta de ação revolucionária inspiradora em militantes de outros lugares e meios sociais. O propósito principal do projeto é motivar a disseminação de outras ações revolucionárias, semelhantes ou não a esta proposta, a partir do mesmo método estratégico calcado no princípio libertário conforme já explicado acima.


7) A filosofia inerente ao projeto.

Por fim, é preciso dizer que o projeto se sustenta, ao mesmo tempo, numa fé antropológica e numa utopia histórica. Ou seja, na crença de que os seres humanos e a humanidade podem e, por isso, devem chegar a um estágio de maturidade em sua existência em que os valores da igualdade, fraternidade e solidariedade sejam os que concretamente predominem no coração da maioria e paralelamente definam e aperfeiçoem sempre todas as inúmeras formas de convívio bem como os modelos estruturais de relação humana coletiva. Não importam tanto os nomes que se possam atribuir a esse sistema estrutural-coletivo ou a esse estágio histórico dos homens e das sociedades. Importa fundamentalmente garantir que os três valores acima descritos, um dia, sejam realmente um padrão profundo e predominante em todas os povos e sua forma de vida. Cada povo tem a responsabilidade de construir, do seu modo, esse sonho permanente que é de toda humanidade e de todos os tempos. Nesse sentido é que surgiu o projeto, que abaixo será exposto.



O PROJETO


O projeto, inicialmente, se dá na forma de CAMPANHA (com princípio, meio e fim), esta possuindo algumas etapas que, somadas, alcançam a duração de aproximadamente 11 (onze) meses. O objetivo é repeti-la ANUALMENTE visando atingir, envolver e mobilizar permanente e diretamente as bases populacionais, principalmente os setores populares da cidade do RJ (com possibilidades de extensão futura para outras cidades do grande Rio), suscitando-lhes a progressiva massa crítica, a partir de seus próprios ambientes de moradia. A campanha deverá ser sempre centrada na seguinte questão: QUAL É O PRINCIPAL PROBLEMA SOCIAL QUE DEVE SER RESOLVIDO COM MAIOR URGÊNCIA NA SUA REGIÃO E QUAIS AS MEDIDAS CONCRETAS NECESSÁRIAS PARA ESSA SOLUÇÃO?

Seguem as etapas do Projeto:

1ª Etapa – Reuniões abertas a todas as pessoas e a todos os militantes na cidade do RJ e adjacências (convocados pelo grupo inicial dos 50 ativistas envolvidos) a serem ocorridas nas sedes disponibilizadas pelas entidades civis ou religiosas, para a apresentação, discussão e aprofundamento do projeto, seja na sua forma organizativa concreta, seja no seu propósito tático e estratégico. A idéia é, nesta etapa, criar uma coordenação aberta para a organização executiva de todas as etapas do projeto, não tendo essa coordenação qualquer caráter deliberativo. (duração aproximada da etapa: dois meses).

2ª Etapa – Circulação de um questionário (cujas perguntas são as expostas acima) junto à população, atingindo as pessoas principalmente nas suas próprias residências. Propõe-se concentrar a atuação de todos os participantes numa determinada região de cada vez (p.ex., na Zona Oeste do Rio), priorizando sempre os meios mais populares. Em equipes de dois, ir ao encontro dos moradores, de preferência nos fins-de-semana, deixando, com o responsável de cada residência, o referido questionário e recolhendo-o, preenchido, em momento logo a seguir (no dia seguinte ou semana seguinte). Nesse contato direto, travar debate inicial com os referidos moradores, esclarecendo quais são os objetivos concretos da iniciativa e enfatizando as próximas etapas. (duração aproximada da etapa: quatro meses).

3ª Etapa – Reunião com debate em grupos e Plenária entre os ativistas envolvidos no projeto, acerca das respostas dos questionários e das experiências suscitadas no contato direto junto à população. Aqui será aprovado texto para ser entregue principalmente aos mesmos moradores contatados anteriormente (e extensivo para a população em geral local) informando o resultado da pesquisa e chamando-os para um ato público em torno das principais reivindicações apontadas na pesquisa. A Plenária dos militantes também decidirá o(s) lugar (es) e o(s) dia(s) da realização do(s) ato(s) (a idéia é que cada ato seja feito na própria região dos moradores visitados e no fim-de-semana). (duração aproximada da etapa: 15 dias).

4ª Etapa – Retorno das mesmas equipes (grupo de dois) às residências anteriormente visitadas, agora para entregar o texto, conversar sobre os resultados e convocar os moradores para o ato público, conforme deliberação na etapa anterior. Panfletagem paralela nos ambientes públicos da região (duração aproximada da etapa: um mês e 15 dias).

5ª Etapa – Realização do ato público. Este é o ápice do projeto. Nesse evento o propósito é chamar a atenção da população em geral, para o principal problema destacado pelos moradores bem como suas soluções. Tentar também envolver a mídia. Pode-se fazer, neste momento, uma votação que escolha comissão que irão dar encaminhamento, pelas vias institucionais, às reivindicações específicas em questão (duração aproximada: 15 dias de prazo, para cada ato realizado).

6ª Etapa – Reunião aberta com debate em grupos e Plenária de avaliação geral do projeto (um final de semana). Nessa etapa, a Plenária elaborará documento conclusivo para ser encaminhado, pelas mesmas equipes anteriores e outras novas, às bases populares visitadas. (duração aproximada da etapa: 15 dias).

7ª Etapa – Retorno às bases visitadas, pelas equipes anteriores, para a panfletagem do documento conclusivo elaborado conforme etapa anterior. (duração aproximada da etapa: um mês e 15 dias).



CONCLUSÃO



1) A eficácia do mecanismo da democracia direta.

Feita exposição do projeto, pode-se depreende agora com maior clareza tudo o que foi dito na introdução deste texto. Enfatiza-se nesta conclusão a absoluta importância que o projeto atribui ao mecanismo e processo da democracia direta em todos os passos e etapas do seu desenvolvimento. A escolha dos lugares de moradia para a implementação do projeto bem como o enfoque das perguntas em torno dos problemas específicos locais da população visam essencialmente alcançá-la numa realidade em condições subjetiva e objetiva mais favoráveis para o estímulo à sua participação ativa e envolvimento progressivo na construção da mobilização dentro da estratégia proposta.

Em primeiro lugar, é no ambiente residencial, sobretudo nos fins-de-semana, que a grande maioria das pessoas - sobretudo dos segmentos mais populares - exercem e dão vazão às suas dimensões humanas (família, lazer, cultura, amigos, etc), reprimidas no seu cotidiano funcional.

Em segundo lugar, e até em decorrência da análise anterior, é a partir dos problemas específicos dessa realidade da região residencial, que as pessoas em geral podem ser mais diretamente instigadas a se mobilizar politicamente visando, de início, valorizar e proteger aquela realidade que ainda lhes permite viver o seu lado humano mais precioso.

2) Mobilização local porém voltada para a luta nas questões macro-estruturais.

Obviamente, está-se longe de defender aqui a idéia de que as transformações estruturais do país venham se dar a partir de reivindicações pontuais e iniciativas locais de segmentos sociais. Aliás, essas iniciativas, quando ocorridas de forma isolada, ou seja, centradas em si mesmas, como costumam acontecer, já demonstraram fartamente que nunca levaram ao avanço qualitativo da mobilização e da consciência política popular. Por isso mesmo, quase sempre, sequer chegaram aos resultados mínimos naquilo mesmo que se propunham a alcançar, desestimulando ainda mais a participação.

Trata-se, portanto, de entender corretamente a referida tática do projeto de abordagem popular. Ela precisa ser construída rigorosamente dentro de um projeto Estratégico, de longo prazo, conforme o proposto acima. Este, partindo dos problemas específicos populares, visa a construção e consolidação progressiva de uma cultura de mobilização e de massa crítica para a intervenção coletiva, cada vez maior, nas questões macro-estruturais que atingem todos os níveis da nossa existência. Para tanto, como já dito, é fundamental uma vanguarda autêntica que atue no sentido de motivar as bases populares a persistir e prosseguir na luta, avançando etapas, sempre dentro do princípio da democracia direta radical.

3) A construção da consciência de classe dos trabalhadores e suas exigências.

Por outro lado, faz-se necessário analisar a tática de abordagem nas bases, adotada concretamente pelas diversas organizações políticas. De um modo geral, ela sim é a mais equivocada possível porque, como já dito, parte da crença de que é possível e necessário alcançar e conduzir as massas simplesmente com a força de verdades pré-concebidas a partir de uma suposta razão científica. É por causa dessa concepção pseudo-vanguardista, que se tem investido em atividades políticas, por exemplo, nos grandes centros comerciais visando atingir as multidões reunidas. Simplesmente se ignora o fato de que ali predomina o modelo burguês determinando e controlando o comportamento das massas a partir das regras frias do individualismo, do consumismo, da mecanização, da mercantilização, da concorrência, etc. Ou seja, partir desse ambiente de massas para tentar implementar o discurso da consciência de classe tem sido sedutor no aspecto do alcance midiático, mas a experiência afirma ser essa uma forma absolutamente inócua na questão da conscientização e mobilização concreta e qualitativa dos trabalhadores.

Ocorre que, paradoxalmente, a identidade que os trabalhadores concentrados nesses centros comerciais mais resistem a ter é justamente a identidade de classe. Pois, isto significaria, de alguma forma, atribuir dignidade às suas obrigações laborais que são normalmente altamente opressoras, escravizantes e desumanas. Dentro desta realidade degradante vivida diariamente pelos trabalhadores em geral, o discurso da vanguarda de esquerda centrado na “valorização da classe” soa como uma ilusão e, por isso, não consegue e nunca consegui atingir a simpatia das massas.

Portanto, a tão importante e imprescindível consciência de classe dos trabalhadores para o processo das transformações estruturais do atual sistema de poder econômico capitalista, na atual realidade opressiva em que os trabalhadores se encontram, só será construída concretamente partindo-se de uma atuação para além do ambiente chamado “profissional”. Em resumo, hoje, com o aperfeiçoamento dos instrumentais burgueses de dominação das massas, impõe-se à militância de esquerda comprometida com a causa popular o desafio da descoberta de novos meios de ação, sem o abandono dos instrumentais já existentes, visando atingir efetiva e eficazmente os indivíduos e as massas trabalhadoras no propósito da mobilização coletiva.

Por isso, fica a proposta para a sua reflexão.

Saudações,


Rio de Janeiro, 09 de maio de 2009.

RINALDO MARTINS DE OLIVEIRA