domingo, 7 de junho de 2009

O ATUAL MODELO DO HIPER-INDIVIDUALISMO E A CULTURA DO HEDONISMO ALIMENTANDO O FALSO SONHO DE FELICIDADE

A atual fase histórica em que as nossas sociedades do mundo inteiro atravessam exige dos homens e mulheres de bem, preocupados com a realidade de injustiça, pobreza e miséria das massas e dispostos a colaborar na luta pela sua supressão, uma análise cuidadosa e profunda dos novos instrumentais de controle e alienação utilizados pelos dominantes. Isto para que nossos atos políticos não acabem em práticas não só ineficazes nos seus propósitos almejados como também colaboradoras dessa situação geral caótica e opressiva.

Trata-se de entender que a partir da década de 70 foi introduzido nas sociedades dos países centrais, alcançando, a partir da década de 80, também os países “periféricos”, um modelo de comportamento de massas calcado na lógica do chamado hiper-individualismo.

Todas as estruturas de poder e controle social, nos seus mínimos detalhes, estão agora plenamente voltadas para a super-valorização, ou mais exatamente, para a exaustiva exploração do mundo subjetivo dos indivíduos em detrimento da vida compartilhada em sociedade.

Aproveitando-se justamente do atual momento, qual alguns teóricos denominam de pós-modernidade (seja em ruptura ou em aprofundamento da modernidade iniciada no século XIX), quando vê-se aflorar novamente um grande pulsar do espírito humano à procura da experimentação de novas dimensões existenciais, muitas até então desconhecidas e/ou reprimidas pelos tradicionais modelos culturais anteriores, os grandes grupos dominantes têm conseguido, com grande desenvoltura, vender às massas falsos sonhos de libertação de sempre, em torno da imposição de pseudo-novos valores.

A novidade mesmo não está nos atuais valores em si disseminados mas na capacidade que adquiriram de articular um novo estilo de vida alcançando TODAS as estratificações sociais, ou seja, não só os segmentos das classes mais abastadas (alta e média) como também agora os da classe pobre e popular. Cada uma dessas classes - e dentro de cada classe, os seus sub-grupos - ainda que de forma diferenciada, tendem a adotar um único padrão de comportamento centrado no valor do hedonismo que se estabelece como uma própria cultura social a qual toda a vida contemporânea, como “exigência dos novos tempos”, deve estar submetida e sintonizada para galgar o seu sentido existencial e a, conseqüente, felicidade.

Colocada no patamar de fim máximo, a conquista e usufruto do prazer (o consumismo é um dos meios, certamente o mais recorrido) torna-se a meta principal de cada indivíduo para o qual vale todo o esforço. Deste modo, a procura da construção da sua dignidade enquanto ser humano (que inclui o prazer, mas não se esgota nele) fica simplesmente relegada ao esquecimento, como se percebe explicitamente hoje em dia.

É, enfim, através desta redução, inversão e deturpação dos verdadeiros valores existenciais que então se pode transformar os indivíduos em seres passivos, dóceis às imposições do capital e indiferentes em relação a tudo que se refira à sua própria essência humana, que está fundamentalmente no exercício da Liberdade profunda para o qual todos somos vocacionados a viver.

A máxima dos ideólogos clássicos do poder: “dividir para dominar”, foi agora, com o modelo comportamental do hiper-individualismo e com a cultura social do hedonismo, levada às suas últimas conseqüências. Trata-se da atomização total dos indivíduos em seus mundos internos convertendo o mundo social e as relações inter-pessoais em mero meio a serviço de seus próprios interesses privados.

Dentro desse quadro cabe-nos entender que lutar hoje pelo respeito à dignidade humana nas nossas sociedades representa, mais do que nunca, combater os (anti)valores nelas predominantes que têm remetido a esmagadora maioria das pessoas a procurarem a felicidade onde não encontrarão.

Rio de Janeiro, 06 de junho de 2009.

RINALDO MARTINS DE OLIVEIRA

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