sexta-feira, 19 de junho de 2009

SOBRE A FÉ ANTROPOLÓGICA

“Graças à síntese entre a invisibilidade dos resultados de nossa própria história e a relativa visibilidade dos resultados da grande história humana, a atividade histórica continua sendo uma promessa pela qual valea pena apostar, numa esperança feita de paciente responsabilidade”.

Juan Luiz Segundo.

Este é um parágrafo do excelente livro “A história perdida e recuperada deJesus Cristo”. A passagem é em análise do cap. 8. de Paulo aos Romanos,onde está o seu pensamento mais profundo. Para JL Segundo, Paulo ali faz um esforço para interpretar a Ressurreição de Jesus com uma clave antropológica e não teológica/religiosa, portanto cabível a todos os homens. Inclusive, essa clave antropológica tanto veio influenciar os próprios evangelhos que lhes possibilitou formular uma outra clave - a clave política - para a interpretação da vida de Jesus (o seu embate com os fariseus represente claramente esta clave interpretativa).

A Ressurreição de Cristo representa, para Paulo, o mesmo que a Ressurreição Universal de todos os homens. Paulo, inclusive, dá mais importância à essa última ressurreição do que a do próprio Jesus. Em Rm8,24-25 ele fala: “Esperança que se vê não é esperança, porque, para que esperaria quem já vê? Mas se esperamos o que não vemos, anelamos com paciência”. Ele quer dizer que a Ressurreição de Jesus não é prova, em si mesma, da vitória do bem contra o mal, mas sim sinal de que estamos no caminho certo quando esperamos ativamente que essa vitória um dia venha a acontecer definitivamente. Ou seja, a esperança na ressurreição não é exclusiva só de quem acredita em Deus, mas mérito de todos os homens que acreditam na capacidade do homem e da humanidade de se auto-superar em direção à sua perfeição (o comunismo de Marx, que foi ateu, não seria a expressão dessa fé antropológica?).

Nesse aspecto antropológico proposto por Paulo, a doutrina cristã se iguala à doutrina budista/hinduísta uma vez que todas atribuem aos homens a possibilidade de atingir, em vida e aqui na terra, a perfeição. O Espírito (que se traduz de forma variada) serve para dar forças aos homens para essa construção do que Jesus denominou Reino de Deus.

Rinaldo Martins de Olivera

19/06/09.

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