sexta-feira, 29 de maio de 2009

À PROCURA DE 50 MILITANTES PARA INÍCIO DE UM PROJETO REVOLUCIONÁRIO

A) INTRODUÇÃO


1) A procura de ativistas revolucionários.

Procuro 50 ativistas que queiram começar um projeto transformador (exposto no item B) visando a mobilização popular, a começar na cidade do Rio de Janeiro, com potencial de alastramento para outras cidades do Estado do RJ e do país, dentro do propósito das mudanças estruturais da ordem capitalista dominante.

2) A única exigência.

A única exigência, para a garantia do desenvolvimento profícuo do projeto, é que cada participante esteja movido pelo sentimento de total altruísmo e gratuidade à causa da libertação popular. Pois, de benefício pessoal, como poderá ser concluído, o projeto só proporcionará a satisfação da certeza de que se está contribuindo concreta e efetivamente para uma futura sociedade fraterna, sem exploradores e explorados, sem opressores e oprimidos, sem algozes e vítimas, ou seja, para uma sociedade autenticamente socialista com democracia direta radical. No mais, o projeto só poderá cobrar muita paciência histórica, esforço e sacrifício de cada um dos participantes e nada mais além disso.

3) O desvínculo do projeto com qualquer organismo político.

Trata-se de um projeto a ser desenvolvido por iniciativa pessoal de seus participantes, motivados pelos seus princípios. Portanto, não é vinculado e nem deve sê-lo a qualquer organização, instituição ou entidade civil, estando, porém, todos os ativistas desses organismos políticos também convidados a participar livremente do mesmo.
4) O caráter estratégico do projeto.

O projeto tem uma perspectiva revolucionária em sua forma e conteúdo mas não garante, por si mesmo, um resultado, pelo menos a curto e médio prazo, no que se propõe a fazer: promover a auto-transformação das massas desorganizadas em povo politicamente organizado. Isto porque, através dele, seus participantes não se disporão a “transmitir verdades” ou “conduzir o processo” mas, tão somente, instigar a população a procurar, a partir da sua própria realidade, demanda e juízo político, as saídas para os problemas concretos que sofre no seu cotidiano. Ou seja, o método adotado não tem a falsa pretensão científica de querer prever ou determinar quais passos deverão ser dados e quando cada etapa será superada na direção almejada. Pois, tratando-se de atingir e envolver politicamente pessoas concretas, considerando as suas virtudes e limitações, e não uma mera massa sem personalidade própria, qualquer determinismo torna-se absolutamente irreal.

Não obstante, apesar de sua imprecisão em relação aos enlaces e desenlaces que surgirão no decorrer da sua execução, o presente projeto se orienta no PRINCÍPIO POLÍTICO que sempre foi o único capaz de efetivamente alcançar concretamente os objetivos estratégicos e revolucionários acima: aquele que radicalmente recusa-se impor soluções, ao contrário, insiste incansavelmente que a própria população, seja em qual estágio político estiver, as procure pelo seu próprio juízo de valor e meios, mesmo que as medidas por ela decididas não sejam consideradas as mais “corretas” e “eficazes” (obviamente, pelo relativo critério de uma vanguarda intelectual).

Portanto, aqui se entende que o papel da verdadeira vanguarda não é o de impedir os eventuais “erros” ou “desvios” cometidos pelas “bases” mas principalmente o de ajudá-las, quando isto ocorrer, a refleti-los para superá-los. A avaliação é que a causa do maior atraso no processo da organização popular e mesmo do seu estancamento nunca esteve nos erros táticos cometidos pela população (até porque ela nunca teve o direito de decidir), mas justamente na arrogância de uma auto-intitulada vanguarda pseudo-iluminada de querer - sempre em vão – obrigar as bases a “acertar”, suprimindo com isso justamente o fim estratégico que teoricamente pretende-se alcançar: um modelo de organização sócio-política radicalmente democrática entre os indivíduos no país, onde todos, efetivamente, tenham garantido o poder deliberativo e executivo sobre os rumos gerais da sociedade onde vivem.

5) O prazo para alcançar algum resultado.

O prazo para o surgimento de algum resultado concreto, após o início da execução do projeto, quanto à efetiva mobilização popular (ainda que de um segmento social situado em uma determinada região da cidade, como após será melhor esclarecido) não poderá ser previamente definido, pelas razões acima já explicadas. Não obstante, a perspectiva que aqui se vislumbra é que com 10 anos de atuação incansável e continua desses 50 ativistas iniciais (podendo e devendo ser este número multiplicado no decorrer do tempo de atuação), preservando-se, obviamente, o espírito original do projeto, já poderá ser verificado um grande avanço nos seus objetivos concretos. Talvez até mesmo um resultado altamente revelador, pois a realidade para os próximos anos infelizmente parece caminhar justamente na direção contrária, ou seja, no sentido do aprofundamento ainda maior da desmobilização das organizações políticas em geral no país.

6) O projeto como referência de ação direta.

É claro que o projeto não tem a ilusão de galgar sozinho um processo de revolução popular em todo o país. Trata-se, propriamente, de promover uma determinada ação direta concreta em alguns meios populares, com uma tática definida que, pretende, contudo, fundamentalmente transformar-se em uma referência concreta de ação revolucionária inspiradora em militantes de outros lugares e meios sociais. O propósito principal do projeto é motivar a disseminação de outras ações revolucionárias, semelhantes ou não a esta proposta, a partir do mesmo método estratégico calcado no princípio libertário conforme já explicado acima.


7) A filosofia inerente ao projeto.

Por fim, é preciso dizer que o projeto se sustenta, ao mesmo tempo, numa fé antropológica e numa utopia histórica. Ou seja, na crença de que os seres humanos e a humanidade podem e, por isso, devem chegar a um estágio de maturidade em sua existência em que os valores da igualdade, fraternidade e solidariedade sejam os que concretamente predominem no coração da maioria e paralelamente definam e aperfeiçoem sempre todas as inúmeras formas de convívio bem como os modelos estruturais de relação humana coletiva. Não importam tanto os nomes que se possam atribuir a esse sistema estrutural-coletivo ou a esse estágio histórico dos homens e das sociedades. Importa fundamentalmente garantir que os três valores acima descritos, um dia, sejam realmente um padrão profundo e predominante em todas os povos e sua forma de vida. Cada povo tem a responsabilidade de construir, do seu modo, esse sonho permanente que é de toda humanidade e de todos os tempos. Nesse sentido é que surgiu o projeto, que abaixo será exposto.



O PROJETO


O projeto, inicialmente, se dá na forma de CAMPANHA (com princípio, meio e fim), esta possuindo algumas etapas que, somadas, alcançam a duração de aproximadamente 11 (onze) meses. O objetivo é repeti-la ANUALMENTE visando atingir, envolver e mobilizar permanente e diretamente as bases populacionais, principalmente os setores populares da cidade do RJ (com possibilidades de extensão futura para outras cidades do grande Rio), suscitando-lhes a progressiva massa crítica, a partir de seus próprios ambientes de moradia. A campanha deverá ser sempre centrada na seguinte questão: QUAL É O PRINCIPAL PROBLEMA SOCIAL QUE DEVE SER RESOLVIDO COM MAIOR URGÊNCIA NA SUA REGIÃO E QUAIS AS MEDIDAS CONCRETAS NECESSÁRIAS PARA ESSA SOLUÇÃO?

Seguem as etapas do Projeto:

1ª Etapa – Reuniões abertas a todas as pessoas e a todos os militantes na cidade do RJ e adjacências (convocados pelo grupo inicial dos 50 ativistas envolvidos) a serem ocorridas nas sedes disponibilizadas pelas entidades civis ou religiosas, para a apresentação, discussão e aprofundamento do projeto, seja na sua forma organizativa concreta, seja no seu propósito tático e estratégico. A idéia é, nesta etapa, criar uma coordenação aberta para a organização executiva de todas as etapas do projeto, não tendo essa coordenação qualquer caráter deliberativo. (duração aproximada da etapa: dois meses).

2ª Etapa – Circulação de um questionário (cujas perguntas são as expostas acima) junto à população, atingindo as pessoas principalmente nas suas próprias residências. Propõe-se concentrar a atuação de todos os participantes numa determinada região de cada vez (p.ex., na Zona Oeste do Rio), priorizando sempre os meios mais populares. Em equipes de dois, ir ao encontro dos moradores, de preferência nos fins-de-semana, deixando, com o responsável de cada residência, o referido questionário e recolhendo-o, preenchido, em momento logo a seguir (no dia seguinte ou semana seguinte). Nesse contato direto, travar debate inicial com os referidos moradores, esclarecendo quais são os objetivos concretos da iniciativa e enfatizando as próximas etapas. (duração aproximada da etapa: quatro meses).

3ª Etapa – Reunião com debate em grupos e Plenária entre os ativistas envolvidos no projeto, acerca das respostas dos questionários e das experiências suscitadas no contato direto junto à população. Aqui será aprovado texto para ser entregue principalmente aos mesmos moradores contatados anteriormente (e extensivo para a população em geral local) informando o resultado da pesquisa e chamando-os para um ato público em torno das principais reivindicações apontadas na pesquisa. A Plenária dos militantes também decidirá o(s) lugar (es) e o(s) dia(s) da realização do(s) ato(s) (a idéia é que cada ato seja feito na própria região dos moradores visitados e no fim-de-semana). (duração aproximada da etapa: 15 dias).

4ª Etapa – Retorno das mesmas equipes (grupo de dois) às residências anteriormente visitadas, agora para entregar o texto, conversar sobre os resultados e convocar os moradores para o ato público, conforme deliberação na etapa anterior. Panfletagem paralela nos ambientes públicos da região (duração aproximada da etapa: um mês e 15 dias).

5ª Etapa – Realização do ato público. Este é o ápice do projeto. Nesse evento o propósito é chamar a atenção da população em geral, para o principal problema destacado pelos moradores bem como suas soluções. Tentar também envolver a mídia. Pode-se fazer, neste momento, uma votação que escolha comissão que irão dar encaminhamento, pelas vias institucionais, às reivindicações específicas em questão (duração aproximada: 15 dias de prazo, para cada ato realizado).

6ª Etapa – Reunião aberta com debate em grupos e Plenária de avaliação geral do projeto (um final de semana). Nessa etapa, a Plenária elaborará documento conclusivo para ser encaminhado, pelas mesmas equipes anteriores e outras novas, às bases populares visitadas. (duração aproximada da etapa: 15 dias).

7ª Etapa – Retorno às bases visitadas, pelas equipes anteriores, para a panfletagem do documento conclusivo elaborado conforme etapa anterior. (duração aproximada da etapa: um mês e 15 dias).



CONCLUSÃO



1) A eficácia do mecanismo da democracia direta.

Feita exposição do projeto, pode-se depreende agora com maior clareza tudo o que foi dito na introdução deste texto. Enfatiza-se nesta conclusão a absoluta importância que o projeto atribui ao mecanismo e processo da democracia direta em todos os passos e etapas do seu desenvolvimento. A escolha dos lugares de moradia para a implementação do projeto bem como o enfoque das perguntas em torno dos problemas específicos locais da população visam essencialmente alcançá-la numa realidade em condições subjetiva e objetiva mais favoráveis para o estímulo à sua participação ativa e envolvimento progressivo na construção da mobilização dentro da estratégia proposta.

Em primeiro lugar, é no ambiente residencial, sobretudo nos fins-de-semana, que a grande maioria das pessoas - sobretudo dos segmentos mais populares - exercem e dão vazão às suas dimensões humanas (família, lazer, cultura, amigos, etc), reprimidas no seu cotidiano funcional.

Em segundo lugar, e até em decorrência da análise anterior, é a partir dos problemas específicos dessa realidade da região residencial, que as pessoas em geral podem ser mais diretamente instigadas a se mobilizar politicamente visando, de início, valorizar e proteger aquela realidade que ainda lhes permite viver o seu lado humano mais precioso.

2) Mobilização local porém voltada para a luta nas questões macro-estruturais.

Obviamente, está-se longe de defender aqui a idéia de que as transformações estruturais do país venham se dar a partir de reivindicações pontuais e iniciativas locais de segmentos sociais. Aliás, essas iniciativas, quando ocorridas de forma isolada, ou seja, centradas em si mesmas, como costumam acontecer, já demonstraram fartamente que nunca levaram ao avanço qualitativo da mobilização e da consciência política popular. Por isso mesmo, quase sempre, sequer chegaram aos resultados mínimos naquilo mesmo que se propunham a alcançar, desestimulando ainda mais a participação.

Trata-se, portanto, de entender corretamente a referida tática do projeto de abordagem popular. Ela precisa ser construída rigorosamente dentro de um projeto Estratégico, de longo prazo, conforme o proposto acima. Este, partindo dos problemas específicos populares, visa a construção e consolidação progressiva de uma cultura de mobilização e de massa crítica para a intervenção coletiva, cada vez maior, nas questões macro-estruturais que atingem todos os níveis da nossa existência. Para tanto, como já dito, é fundamental uma vanguarda autêntica que atue no sentido de motivar as bases populares a persistir e prosseguir na luta, avançando etapas, sempre dentro do princípio da democracia direta radical.

3) A construção da consciência de classe dos trabalhadores e suas exigências.

Por outro lado, faz-se necessário analisar a tática de abordagem nas bases, adotada concretamente pelas diversas organizações políticas. De um modo geral, ela sim é a mais equivocada possível porque, como já dito, parte da crença de que é possível e necessário alcançar e conduzir as massas simplesmente com a força de verdades pré-concebidas a partir de uma suposta razão científica. É por causa dessa concepção pseudo-vanguardista, que se tem investido em atividades políticas, por exemplo, nos grandes centros comerciais visando atingir as multidões reunidas. Simplesmente se ignora o fato de que ali predomina o modelo burguês determinando e controlando o comportamento das massas a partir das regras frias do individualismo, do consumismo, da mecanização, da mercantilização, da concorrência, etc. Ou seja, partir desse ambiente de massas para tentar implementar o discurso da consciência de classe tem sido sedutor no aspecto do alcance midiático, mas a experiência afirma ser essa uma forma absolutamente inócua na questão da conscientização e mobilização concreta e qualitativa dos trabalhadores.

Ocorre que, paradoxalmente, a identidade que os trabalhadores concentrados nesses centros comerciais mais resistem a ter é justamente a identidade de classe. Pois, isto significaria, de alguma forma, atribuir dignidade às suas obrigações laborais que são normalmente altamente opressoras, escravizantes e desumanas. Dentro desta realidade degradante vivida diariamente pelos trabalhadores em geral, o discurso da vanguarda de esquerda centrado na “valorização da classe” soa como uma ilusão e, por isso, não consegue e nunca consegui atingir a simpatia das massas.

Portanto, a tão importante e imprescindível consciência de classe dos trabalhadores para o processo das transformações estruturais do atual sistema de poder econômico capitalista, na atual realidade opressiva em que os trabalhadores se encontram, só será construída concretamente partindo-se de uma atuação para além do ambiente chamado “profissional”. Em resumo, hoje, com o aperfeiçoamento dos instrumentais burgueses de dominação das massas, impõe-se à militância de esquerda comprometida com a causa popular o desafio da descoberta de novos meios de ação, sem o abandono dos instrumentais já existentes, visando atingir efetiva e eficazmente os indivíduos e as massas trabalhadoras no propósito da mobilização coletiva.

Por isso, fica a proposta para a sua reflexão.

Saudações,


Rio de Janeiro, 09 de maio de 2009.

RINALDO MARTINS DE OLIVEIRA

Um comentário:

  1. A idéia é genial, realmente revolucionária. Mas acho que começar o trabalho só a partir dos 50 é limitá-lo. O que eu quero dizer é que deve ser começado com qualquer número de pessoas de boa vontade. Os grandes movimentos da História começaram com poucos (Abrahão, Moisés,Jesus Cristo, Ghandi, a revolução cubana, etc). O que é preciso é começar, ter persistência, não desistir nunca e, sobretudo, ter Fé e Esperança. Como disse d. Pedro Calsadáliga: "Crer na Justiça e na Esperança". A revolução verdadeira tem caráter permanente e é irreversível. É paciente, não tem pressa, não se desespera...
    Então é começar agora com quem quiser e puder.

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