quarta-feira, 20 de maio de 2009

AS ATUAIS DEMISSÕES EM MASSA E A BUROCRACIA SINDICAL

Nesse momento de demissões em massa impostas pelo patronato nas diversas empresas e indústrias do país (a pretexto da crise econômica internacional) é que se constata o quão frágil e desmobilizada está a classe trabalhadora brasileira. Mesmo sofrendo ataques tão ferozes e bárbaros - que chegaram a tornar-se objeto de noticiários da própria mídia burguesa - os trabalhadores em geral ainda sim não conseguem sair da total passividade: da parte dos demitidos, apenas a resignação; da parte dos que se mantêm no emprego, o pavor ainda maior de perdê-lo.

Não há dúvidas que são várias e complexas as causas que suscitaram essa atual situação dos trabalhadores brasileiros. Dentro desse rol de fatores, não se pode deixar de atentar para a verdade de que as organizações sindicais e políticas no país, sem exceção, seja qual for a sua linha ideológica, têm uma grande cota de responsabilidade nesse quadro trágico.

O problema é que, desde a derrubada do anarco-sindicalismo no país (portanto há 100 anos), nunca mais houve qualquer iniciativa de peso por parte das direções sindicais e organizações políticas ditas “de esquerda”, de um trabalho sério de politização e mobilização direta e permanente das bases trabalhadoras, que se daria, fundamentalmente, garantindo-lhes o protagonismo no poder efetivo e direto sobre a condução político-estratégica do seu próprio movimento reivindicativo e libertário.

Ao invés disso o interesse predominante das cúpulas sindicais e políticas sempre foi, e cada vez mais explicitamente, o de implementar uma política voltada para a conquista e manutenção do controle sobre as máquinas das entidades.

Este aparato sindical - de patrimônio e renda que no decorrer das décadas foi se avolumando, atingindo hoje cifras milionárias em muitos casos – acabou suscitando justamente a formação e cristalização de uma verdadeira casta de burocratas que passou a comandar os referidos organismos de forma absoluta e centralizadora visando tão somente a perpetuação no poder, dificultando e muitas vezes mesmo impedindo qualquer iniciativa oriunda das bases.

O fato é que os trabalhadores em geral, já há décadas, têm posto o seu destino nas mãos dessas organizações e suas “lideranças”, de modo que as conseqüências desastrosas estão aí. Vide que em um caso tão absurdo como o da demissão em massa na Embraer, no março último, que atingiu, de uma só vez, 20% do seu efetivo (cerca de 4.300 funcionários), as centrais sindicais e sindicatos não fizeram mais do que recorrer à justiça, iludindo os demitidos com vãs promessas e expectativas. Regozijaram-se, inclusive, por terem conseguido audiência com o Presidente da República, quando tiveram a oportunidade de “exigir-lhe” providências. Iniciativas estas que, obviamente, só serviram para fazer jogo de cena e nada mais.

Uma situação tão grave, como essa, exigia, isto sim, a imediata e pronta reação direta de toda a classe trabalhadora bem como dos diversos segmentos da sociedade civil organizada. Para tanto, a construção de tal mobilização coletiva teria que ser a prioridade máxima permanente de todas as entidades e instituições representativas no país, sobretudo as que se dizem realmente comprometidas com a causa popular, o que infelizmente sempre esteve a anos-luz de ocorrer, na prática.

Enfim, a classe trabalhadora (empregada ou não) passa pelo seu pior momento, resultado direto do seu total recuo na questão da organização, mobilização e resistência. Por isso mesmo, o desafio da construção da sua unidade estratégica na luta contra o capital, conforme já conclamado há 150 anos por Marx e Engels no Manifesto Comunista, continua sendo o mesmo. Devendo, inclusive, contrapor-se radicalmente ao pragmatismo político (“política do possível”, do “aqui e agora”, das alianças oportunistas) que hoje assola e corrompe a esmagadora maioria das organizações sindicais e políticas no nosso país e no mundo.

Em outras palavras: a construção da sociedade autenticamente socialista - sem oprimidos e opressores – mantém-se, mais do que nunca, como a única alternativa concreta e viável dada aos trabalhadores. E essa luta ocorrerá não só mais em confronto direto aos interesses da burguesia, mas também contra os interesses dos burocratas sindicais e políticas atuais que já se constituíram numa nova elite dominante.

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