sexta-feira, 22 de maio de 2009

TRABALHADOR: O ESCRAVO REMUNERADO.

A diferença no Brasil dos dias atuais para a época das senzalas, não é que, hoje, já não haja mais escravos. Pelo contrário: é que a escravidão agora atinge o conjunto da nossa sociedade, “indiscriminadamente”.

Obviamente, aqui, não estamos comparando a realidade social entre negros e brancos que continua refletindo fortemente o processo histórico de segregação dos primeiros. Nem tão pouco ignorando a existência dos segmentos sócio-econômicos tão díspares que nos dá o triste título do país mais desigual do planeta.

Estamos refletindo a respeito da lógica principal que sustentou no nosso país o regime escravista e que, na verdade, não mudou: a lógica do lucro que submete o indivíduo e as massas ao máximo esforço físico e mental visando a máxima produção.

Isto é o que chamam hoje de trabalho. A única diferença da escravidão clássica é que trabalho faz-se uma atividade remunerada (veja que a expressão “trabalho escravo” é utilizada justamente para representar uma relação trabalhista entre patrão e empregado que seria normal se não fosse não-remunerada).

Se formos pôr no papel a quantidade de tempo total gasto, em média, por um trabalhador brasileiro, com expediente de 44 horas semanais, incluindo-se todas as atividades diretamente relacionadas ao seu trabalho, poderemos concluir que este simplesmente dedica, no mínimo, METADE do seu dia para a produção. Senão vejamos:

9 horas de trabalho + 2 horas de condução + 1 hora de almoço =
TOTAL: 12 HORAS.

Se formos incluir a preparação para o trabalho que seria lavar e passar as próprias roupas, os cuidados de higiene e estética pessoal, bem como o café da manhã, poderíamos acrescentar, no mínimo, mais 1 hora. Conclui-se que, por baixo, mais da metade do dia do indivíduo é voltada DIRETAMENTE para o exercício do trabalho.

Considerando que a média do sono é de 8 horas, somando-se com as 13 horas voltadas ao trabalho, então sobrarão três horas no dia para que o indivíduo “trabalhador” possa fazer tudo o mais necessário: jantar, higiene pessoal, arrumar a casa, compras, cuidar da família, pagar contas, resolver problemas etc. E estamos aqui só discriminando as tarefas e as obrigações rotineiras. Mas há ainda o lazer, o amor, o ócio, a cultura etc.

É claro que o ser humano não é uma máquina que pode ser ativada sem parar. Estas três horas desse dia chamado “útil” que teoricamente restam ao trabalhador para fazer TUDO o mais além de trabalhar, obviamente serão desviados para a fuga e o alívio imediato. Na prática, esse TUDO o mais a fazer será mesmo jogado para os fins-de-semana. Conclui-se, portanto, que, no mínimo, metade deste “tempo livre” será para resolver problemas acumulados durante a semana, mês e ano. Na outra metade, então, finalmente o trabalhador poderá dar vazão às suas dimensões afetivas, estéticas, intelectuais, societárias, etc.

Mas perguntamos: realmente o conseguirá? Evidentemente que não! Como poderia este trabalhador, num passe de mágica, destituir-se de todo peso que carrega nos 90% de tempo da sua vida “útil” cotidiana, para transformar-se em um ser humano livre e integral, no 10% de tempo “livre” que lhe resta na vida?

A verdade é que a couraça de aço, no seu caso, já está estabelecida, impedindo qualquer tentativa de libertação, pois não há libertação temporária, à prestação. O que normalmente o trabalhador faz com o seu tempo livre é afundar-se ainda mais, seguindo normalmente um estilo de vida dentro da mesma lógica constante de desumanização a ele imposta no seu dia-a-dia funcional.

É verdade que, para quem pode obter bens de consumo, hoje são oferecidos diversos recursos para o seu “tempo livre”, dando a falsa impressão de liberdade e de felicidade. Mas estes poucos mais privilegiados economicamente são ainda mais escravos, porque absolutamente convencidos que a sua vida é boa e livre. Por isso, aliás, são capazes de tudo para se firmarem em seu falso mundo de felicidade.

(Inclusive, a violência social nasce justamente do espírito egoísta, individualista, consumista e recalcado desse segmento. As massas pobres, na verdade, reproduzem, do seu jeito, os valores dos mais abastados, tido como ideais).

Concluindo: a luta pela redução da jornada de trabalho só se justifica se for para ajudar a transformar o trabalhador, que na verdade continua sendo um escravo do sistema, em verdadeiro ser humano livre. Ou seja, inverter radicalmente a estrutura de poder no país e no mundo, colocando o ser humano e seu bem-estar, e não a produção e o lucro (o bem estar do patrão), como centro.

Isto, sem ilusão, só será possível instaurando-se uma outra sociedade: uma sociedade autenticamente socialista.

Rinaldo Martins de Oliveira

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