quinta-feira, 21 de maio de 2009

A QUESTÃO PALESTINA E O DESAFIO DA SOLIDARIEDADE DE CLASSE

O recente ataque de Israel ao povo da Palestina, na Faixa de Gaza, no momento em que escrevo esse artigo, já alcançou o seu vigésimo dia, matando quase 1.500 pessoas, a grande maioria civis, destes, cerca de 600 crianças. Por sua vez, o revide do Hamas, organização política que comanda o atual governo da Palestina, conforme informação da mídia, atingiu treze pessoas, quase todos militares, o que demonstra a desproporcionalidade bélica entre as forças em questão.

O novo conflito começou pelos mesmos motivos políticos que, nos últimos 60 anos, causam a discórdia naquela região: o interesse de Israel sobre as terras palestinas com a alegação de que tais terras lhe pertencem por direito sagrado. O fato é que qualquer suposta situação de pretensa ameaça, a menor que seja, já tem sido pretexto suficiente para o governo israelense dar vazão a toda a sua fúria e truculência, sem importar quem venha ser atingido do lado de lá.

Diante desse quadro, mais uma vez a realidade chegou ao seu patamar mais crítico. Todas as anteriores tímidas tentativas de acordos provaram, a final, não terem passado de uma mera fachada servindo apenas para o atraso estratégico do ponteiro da bomba-relógio que ora está explodindo com virulência nunca antes vista. Ou seja, as condições para o diálogo entre as partes voltaram a estaca zero, com o agravante de uma conjuntura a pior possível.
Do lado palestino, vê-se o total aniquilamento político e moral da histórica OLP-Autoridade Palestina, que desde a morte do líder Yasser Arafat tornou-se um mero fantoche nas mãos dos EUA, institucionalizando-se no partido Fatah, o que por conseqüência favoreceu a ascensão do Hamas, organização radical e fundamentalista que tem como principal bandeira não reconhecer a legitimidade do Estado de Israel.

Do lado de Israel, encontra-se a atual presidência de Simon Peres que utiliza-se do status de “Nobel da Paz” para justamente legitimar e acirrar a política da “resposta direta e imediata” (sistematizada pelo seu antecessor, Edmud Barak) à qualquer investida do inimigo árabe. Com incondicional e total apoio americano, de uns tempos para cá, desenvolve uma estratégia militar aliando a questão ideológica com a questão econômica (na última década foram descobertas jazidas de petróleo na própria Faixa de Gaza), confinando o povo palestino a um espaço cada vez mais reduzido sob mar, terra e ar.

Frente ao impasse que se traduz em grave tragédia para esse povo, mas que também atinge o povo de Israel na medida em que o torna vulnerável às políticas inconseqüentes dos seus dirigentes e dos que lhes tutoram, fazemos, perplexos e agoniados, todos a mesma pergunta: quando e como será que tudo isso vai acabar ?

Para muitos os que analisam a questão não restam dúvidas que os povos de Israel e da Palestina, queiram ou não queiram, são os únicos que poderão impor o fim a esse conflito, intervindo diretamente no processo de negociação, forçando os seus representantes a fecharem um acordo definitivo e duradouro que respeite os interesses, não dos governantes e muito menos dos países imperialistas envolvidos, mas os de ambas as populações que, no fundo, desejam a mesma coisa: viver em paz e com soberania em seu território.

Mas, conclui-se, acertadamente que, por outro lado, a ação direta desses povos não virá por sua iniciativa isolada e sim em decorrência da consolidação de todo um conjunto de condições objetivas e subjetivas, surgidas externamente, que efetivamente os impulsionem a tal feito. Concretamente falando, será a mobilização dos povos de todo o mundo em torno do único princípio capaz de unir a todos - o princípio da solidariedade de classe - que proporcionará aos povos judeus e árabes, bem como a tantos outros povos envolvidos em conflitos, as ferramentas necessárias para seus propósitos de paz e justiça.

Contudo, surge a questão: como, efetivamente, construir essa unidade no princípio da solidariedade ativa internacional? No meu ponto de vista, simplesmente está aqui o maior dos desafios dado aos povos, às suas organizações políticas e aos seus indivíduos. Desafio, aliás, muito maior do que propriamente o posto às nações em conflito armado.

Acontece que a tão falada “solidariedade de classe” tem sido mais um consenso teórico do que uma postura concreta. Em torno desse princípio, de fato, já não é de hoje, pequenas multidões eventualmente se reúnem em manifestações e fóruns, às vezes até com um discurso radical. Contudo é preciso avaliar que grau de compromisso efetivo com a unidade na luta realmente se alimenta.

Na prática, constata-se que, muitas vezes, por trás desse suposto consenso, escondem-se valores e posicionamentos fechados que correspondem justamente o inverso ao que se prega, estando aí a grande incoerência, o grande problema a ser combatido e superado.

Portanto, o primeiro passo para a construção da unidade e solidariedade de classe é uma profunda autocrítica e revisão de postura de todos os organismos sócio-políticos que se auto-intitulam progressistas, seja do nosso como dos demais países. Faz-se fundamental analisar até que ponto suas práticas específicas, em seus métodos de atuação, não têm acabado por também contribuir para a legitimação da política imperialista totalitária que ceifa milhares e milhões de vidas todos os anos.

Resumindo: o desafio maior e mais urgente para que efetivamente os povos massacrados, como o palestino, vejam uma luz no fim do túnel, é que as organizações dos demais países direcionem radicalmente suas práticas para a efetiva causa da libertação popular, a começar dos seus próprios povos, com a lógica central e inabalável de suscitar o protagonismo das massas no processo dessas transformações estruturais.

Somente com a autoridade moral constituída e fortalecida, forjada nessa práxis libertária, é que os povos organizados poderão motivar os outros povos também a se organizarem e resistirem à opressão dominante.

Rio de Janeiro, 16 de janeiro de 2009.

Rinaldo Martins de Oliveira

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