quinta-feira, 21 de maio de 2009

UM TESTEMUNHO CRÍTICO DO SINDICALISMO ATUAL

Nos meus 15 anos de militância sindical pude enxergar perfeitamente a “engrenagem” que já há décadas tem movido os sindicatos do país.

“Engrenagem” é a palavra exata porque concluo que a força motriz que vem determinando a dinâmica sindical, ao contrário do que muitos de nós ainda ingenuamente imaginamos, deixou de ter origem, há muito, no embate dialético das idéias políticas, sejam individuais ou dos grupos ideológicos organizados. Hoje, mais do nunca, é a mecânica fria do pragmatismo, estruturada internamente a partir da consolidação da concepção burguesa do poder (inoculada nas “bases” e nas “cúpulas”), que se faz a responsável maior por impor “caminhos” e “regras” a todo o movimento sindical.

Por conta desta força motriz do movimento sindical ter se deslocado quase que totalmente do campo das idéias para o campo da estrutura, dos modelos políticos prontos, da burocracia, os sindicatos hoje vivem o fenômeno da “autonomização”, ou seja, são capazes de sobreviverem e andarem sozinhos, sem a necessidade do mínimo envolvimento dos trabalhadores no dia-a-dia sindical.

Exemplo? A diretoria utiliza-se da máquina como bem entende, sem nunca consultar as bases; as assembléias gerais deliberam, em nome de toda categoria, com qualquer número de presentes; os Congressos fazem-se cada vez mais fechados à efetiva participação direta dos trabalhadores, com o aumento contínuo da proporção delegado/base; a comunicação sempre enaltece aspectos positivos de uma atividade “mobilizadora” que, na verdade, efetivamente foi praticamente inexistente ou mesmo totalmente fracassada, etc.

Isto se explica pela atual lógica da relação de poder predominante e atuante no interior do movimento sindical atual. Na verdade, hoje, dirigentes e dirigidos são e querem ser regidos concretamente pelas mesmas regras “democráticas” da sociedade burguesa, dando toda a ênfase ao mesmo modelo de organização política que, em última análise, visa a concentração do poder deliberativo e executivo dos recursos coletivos nas mãos de alguns que, para consegui-lo e mantê-lo, sempre precisam servir politicamente aos interesses das elites.

De um lado, os dirigidos se livram dos incômodos das suas efetivas responsabilidades. De outro lado, os dirigentes ficam livres para gerir a máquina a seu bel prazer transmitindo, através dela, a ilusão de falsos avanços e conquistas. A máquina sindical, que seria um instrumento complementar da luta coletiva dos trabalhadores, então ganha vida própria de modo a substituir os pés, mãos e mente dos trabalhadores. Pacto firmado: estes (não à toa chamados de “base”) passam a servir como personagens coadjuvantes ou mesmo figurantes de uma encenação pré-concebida e protagonizadas pelos seus representantes (a “cúpula"). Conjunção perfeita de uma grande hipocrisia e de uma farsa auto-destrutiva.

Portanto, o tão propagado avanço da “circulação democrática de idéias” no interior do movimento sindical, que as atuais elites burocráticas sindicais do país têm disseminado como prova do suposto engrandecimento e amadurecimento da consciência coletiva dos trabalhadores e como elemento legitimador da implementação progressiva do seu chamado “novo sindicalismo”, não passa de um jogo de cena visando apenas maquiar e legitimar o processo autoritário, totalitário, alienado e alienante encontrado cada vez mais nas relações de poder entre os trabalhadores no atual meio sindical.

A prova cabal dessa dura verdade é que toda denúncia concreta e pontual dessa farsa pseudo-democrática, feita por pequenos setores oposicionistas em sindicatos de base, é sempre alijada e estigmatizada pelas cúpulas como sendo um “assunto vazio” ou movido por “sectarismo”.

O importante, hoje, às castas sindicais é dar curso à instauração e consolidação de um novo modelo sindical onde o embate de idéias e a ação direta das massas trabalhadoras seja algo definitivamente do passado, obsoleto, valendo agora a eficácia dos mecanismos e estruturas do poder concentrado, onde cada parte envolvida - “bases” e “cúpula” - tenha o seu papel e lugar definidos, para que os objetivos “gerais” possam ser alcançados.


RINALDO MARTINS DE OLIVEIRA– 1 DE AGOSTO DE 2005.

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