quarta-feira, 20 de maio de 2009

PROFETISMO OU CONFORMISMO ?

A sociedade brasileira sofre, hoje, a maior e a mais grave crise da sua história. Não é a tão falada “crise da economia” que, aliás, de tão duradoura e estrutural, já não pode ser nem considerada propriamente mais uma crise. Refiro-me à crise de esperança que atingiu praticamente a todos: indivíduos, massas, militantes sociais, organizações, entidades e movimentos políticos como as Igrejas, os partidos, os sindicatos, os movimentos populares, culturais, de minorias etc. Esta

A história da humanidade deixa-nos claro que toda a situação de desesperança generalizada sempre foi resultado da combinação de três fatores explosivos: a) uma realidade econômica e política absolutamente opressiva (ainda que com dosagens menores ou maiores de políticas assistencialistas), b) um povo massacrado que, ainda sim, movido por migalhas, se deixa influenciar, dominar e conduzir pelos seus opressores, c) lideranças moralmente enfraquecidas (e muitas vezes cooptadas) que não se dispõem, por covardia ou oportunismo, a dar testemunho e atuar na contramão do fluxo da realidade objetiva e subjetiva adversa acima.

Frente essa realidade, discutir mudanças estruturais no país e no mundo é colocar necessariamente, no centro, a reflexão sobre até que ponto nós - homens e mulheres de bem - temos realmente atuado com profetismo (dentro do significado mais radical dessa palavra, que se encontra na Bíblia, sobretudo nos Evangelhos) no meio do povo e com os meios que temos ao nosso alcance. Ou, ao contrário, se estamos também nos conformando com a realidade dominante e nos acomodando a ela, ou seja, ao dito “status quo”, seguindo junto com todos no fluxo da correnteza.

Como já dito e praticado pelos grandes homens e mulheres que aqui passaram um dia, a referência para essa reflexão deve ser sempre os vitimados pelo sistema do poder. A pergunta é: nos nossos pensamentos e nas nossas preocupações, qual lugar verdadeiro damos a essas pessoas massacradas e à sua classe social oprimida? Com qual rigor e coerência nossas ações políticas são movidas em torno da causa profunda e verdadeira da libertação dos injustiçados, excluídos e marginalizados? Enfim, o pobre faz-se, para nós, em nossa práxis, efetivamente, sujeito/protagonista ou mero objeto/figurante dos projetos políticos que defendemos?

Trata-se de verificar intimamente esses questionamentos como primeiro passo para a formulação de um projeto coletivo transformador de longo prazo. Sem essa auto-crítica profunda, honesta e voltada para a sincera conversão individual e coletiva, que fundamentalmente reformule valores e princípios, vai-se continuar chegando à conclusão conformista e derrotista de que, na prática, em face ao poder opressor, nada é possível fazer senão curvar-se a ele ou, pior, aproveitar-se da situação para tirar proveito pessoal e/ou de grupo.

junho/2008

Rinaldo Martins de Oliveira

Um comentário:

  1. Há que se defender sempre a causa dos oprimidos.Cristo veio para libertá-los da opressão. A luta deve ser permanente e persistente. Não se pode deixar cooptar. Há que se resistir sempre ao opressor e lutar pela liberdade. Mesmo que haja "derrotas". Afinal, "não é o êxito que determina que uma causa é verdadeira".
    Edmílson

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